Feminismo Africano

O conceito de feminismo é uma filosofia, uma forma de vida que nasceu do nível de consciência e pensamento das mulheres. É comum ouvir, a afirmação de que o feminismo não é africano. Como se, feminismo fosse exclusividade dos ocidentais, nesse caso mulheres brancas. Podemos afirmar que o feminismo não é exclusividade de mulheres brancas-ocidentais, ela pode e deve ser feita por todas as mulheres que de uma forma ou outra se sintam oprimidas dentro da sociedade.

Mulheres africanas há muito tempo que tem vindo a fazer feminismo. Desde sempre, elas lutam contra o preconceito masculino e a subordinação das mulheres. Comprometidas com a eliminação da desigualdade de gênero, desafiando o modo como as relações de gênero são socialmente construídas. O feminismo foi e continua sendo uma arma de luta de extrema importância na história das mulheres africanas.

Nos anos de 1975 e 1985 se propagou o ativismo feminista pelo continente e na diáspora. A partir daí, tem se desenvolvido em termos político, legislativo, ideológico e culturalmente. Os movimentos de mulheres africanas e os debates sobre feminismo em África emerge historicamente de quatro momentos: através do movimento endógeno das mulheres que caracterizou grande parte das sociedades africanas; através da resistência anticolonial; como produto direto do movimento de libertação nacional, que abriu espaços para as mulheres transformarem posições antes defendidas sobre a mulher na sociedade, nos seus papéis de mãe, esposa e filha subserviente e obediente e através do resultado do grupo de mulheres profissionais e outras, educadas nas universidades, dentro e fora da África, mulheres independente financeiramente e que foram adquirindo visibilidade pela sua participação em diversas organizações.  Os movimentos feministas em África emergiu desses quatros momentos históricos e representam a mistura de diferentes correntes feministas, por exemplo: a endógena, radical, socialista, liberal, etc. mas, com um único objetivo o de lutar pela libertação da mulher nas suas sociedades.

O feminismo africano envolve o ativismo de base e também o ativismo intelectual. Ela interessa-se pelas questões mais básicas como pelas mais complexas. Ao mesmo tempo que confronta os mitos patriarcais, nos desafia a lidar com os estereótipos racistas. É, através do feminismo que mulheres tomam uma atitude crítica perante os fatos e a sociedade. Há uma tomada de consciência, que conduz a mudança, a partir de transformações das próprias mulheres.

Existem diferentes e variadas formas ou níveis de feminismo. Para que a mulher fale ou se interesse pelos ideais do feminismo, ela tem que estar conscientizada do que e para quem ela dirigi seu discurso feminista. Esse discurso e as bases teóricas vão-se construindo através do percurso e do movimento a qual a mulher pertence.

As mulheres sempre participaram, mesmo que em menor número, em vários tipos de movimentos, tiveram participação nas lutas de libertação dos países colonizados, fizeram história e deixaram sua marca em momentos históricos da humanidade. Quando se fala de feminismo africano, deve-se ter em mente que essa luta começou por elas, como forma de se libertarem da opressão a que foram sujeitas.  Ele tem suas raízes na realidade africana, em que mulheres conscientes da opressão, quiseram lutar e continuam lutando para se libertarem dessas opressões, atualmente em contextos diferentes. Lutam para garantir direitos igualitários perante a sociedade.

Ao falar de feminismo africano, deve-se ter em conta certos aspetos específicos que o distinguem de outros feminismos. Por isso, Salami aponta no seu texto: sete questões-chaves no pensamento africano, sete pontos fundamentais que as feministas africanas devem ter sempre em mente, ao fazer feminismo. Devem ter em mente, que a sociedade africana é uma sociedade patriarcal, em que o sistema psicológico e político valoriza o homem mais do que a mulher, e as leis, a tradição, os costumes, a educação e a linguagem é usada para manter a mulher submissa ao homem, dentro da vida pública como na privada. As feministas africanas tem a responsabilidade de lutar por uma sociedade justa e igualitária, onde tanto o homem como a mulher contribuem para o desenvolvimento e crescimento da sociedade, onde se encontra inserido.

A colonização é outro fator que afeta e contribui para esse desequilíbrio nas relações entre homens e mulheres pois, baseado na ideia de superioridade, homens querem sempre fazer com que as mulheres se sintam inferiorizadas. Essa hierarquia, fruto da colonização, deixou marcas profundas e traumas que precisam ser superadas, tanto para os homens como para as mulheres, embora de diferentes maneiras.

No que tange a tradição, as mulheres africanas foram silenciadas durante muito tempo pelos crimes de patriarcado tradicional, por exemplo: a poligamia, o abuso das viúvas, o corte genital, a falta de acesso das mulheres à propriedade e ao poder na sociedade tradicional. O pensamento feminista africano não procura abandonar as tradições pois, ela faz parte da memória cultural do povo. Elas, apenas ambicionam que a tradição se adapte aos seus tempos de modo a enriquecer os costumes e a cultura.

As feministas africanas, lutam para que haja desenvolvimento dos países africanos, resistindo à hegemonia estrangeira sobre os povos africanos, incentivando o pensamento engajado e força de trabalho inclusiva, para igualdade de direitos e oportunidades para todos. Uma das preocupações das feministas africanas é a questão da sexualidade feminina. Visto que, a mulher africana durante muito tempo, foi visto como objeto de prazer, reprodutora, atualmente elas lutam para que todas tenham o direito de propriedade sobre seu corpo.

É necessário que haja, diversidade de feminismos pois, as necessidades, preocupações de diversas mulheres e homens são definidos por e para elas, em um determinado contexto e localização geográfica. O feminismo africano, é diferente do feminismo branco-ocidental, mas apesar dessa diferença, nas últimas décadas o foco tem sido encontrar formas de trabalhar em conjunto, para fortalecer os laços da luta feminista entre elas. Mesmo, trabalhando em conjunto as feministas africanas devem se posicionar perante às imagens negativas em relação as mulheres negras, reproduzidas no modo de feminismo ocidental. E, as feministas brancas devem ser autocriticas quanto ao seu lugar de fala, ou seja quanto ao seu lugar de privilegio em função da cor da pele.

No contexto africano e nos dias atuais é necessário que o feminismo seja uma ferramenta de luta para as mulheres africanas. Visto que, a sociedade africana a índice global, ocupa o mais baixo nível no que diz respeito a igualdade de gênero e o nível mais elevado em relação a violência doméstica, a circuncisão e mutilação feminina. Cabe, somente as mulheres africanas a responsabilidade de proteger as histórias das mulheres africanas e conectá-las às situações de hoje. Feminismo africano, deve ser feito por mulheres africanas pois, só elas sabem realmente os desafios, as implicações, as proibições, os problemas por que elas passam e enfrentam na sociedade.

Enfim, o papel das feministas africanas é de descolonizar e despatriarcalizar as mentes, criando novas tradições intelectuais, onde a mulher tenha direitos e deveres igualitários em relação aos homens, seja na vida pública como na privada.

Dairine de Cavalho

Sobre cmaeditor1 6 Artigos
“Escolher escrever é rejeitar o silêncio”. Chimamanda Ngozi Adichie

7 Comentários

  1. Wau, parabens Dairine pelo texto é muito rico traz uma gama de coisas q nós mulheres africanas precisamos ter em nossas mentes para melhor fazer a nossa luta.

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*